Fonte do Banheiro dos Jesuítas

Por Luiza Rudner*
Está situada na parte baixa de Salvador, na avenida Jiquitaia nº 375. A fonte faz parte da Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim, ex Noviciado da Anunciada da Jiquitaia.

O chamado “Banheiro dos Jesuítas” é uma antiga instalação hidráulica que integra o colégio dos Órfãos de São Joaquim, ex-Noviciado da Anunciada Jiquitaia. O banheiro, que parece ter sido originalmente apenas uma fonte, situa-se no fundo do colégio, no sopé da falha que divide Salvador na Cidade-Alta e Cidade Baixa.

A referência bibliográfica do mesmo é escassa. O Padre Serafim Leite em sua “História da Companhia de Jesus no Brasil” afirma no vol. V: “Tratavam os padres de buscar água e, quando tiravam pedras de um monte vizinho, descobriram grande mina dela que canalizaram para a casa, roda, tanque e demais oficinas” (p. 145). A fonte ainda pode ser identificada, tal como é descrita por Serafim Leite, um pouco acima do banheiro para onde era conduzida a água provavelmente por uma pequena galéia.

A construção existente consiste em uma robusta caixa de pedra medindo 13,5 x 7,5m e tendo de altura seis metros. Um dos seus lados (SE) serve de arrimo ao morro vizinho e nos demais pode se contar oito arcos plenos de 1,70m de vão. Do antigo telhado resta apenas fragmentos do beiral.

No interior um grande arco divide a construção em dois salões. Num deles se encontra uma cisterna encimada por um arco, enquanto que no outro vê – se pequenos boxes de chuveiro. A cerca de 2,70m de altura e encostado na encosta encontra-se um grande nicho que servia de reservatório. Este tanque parece ter sido substituído por outro mais elevado e executado em alvenaria de pedra “coração de negro”.

Pelo que se pode interpretar dos elementos remanescentes, a primeira construção, que deve datar do começo do século XVIII quando o monumento era ainda o noviciado, era basicamente uma fonte e tinha o seguinte funcionamento:

A água recolhida em uma fissura do maciço rochoso da encosta do bairro da Liberdade era conduzida por gravidade, mediante uma pequena galéia, até o reservatório elevado em forma de nicho aonde a água era armazenada e distribuída. O excesso de água não consumida transbordava por um dos ladrões ainda existente para a grande cisterna que desempenhava também a função de sumidouro.

Estas instalações eram recobertas por um grande telhado de quatro águas e se abria para o exterior através de arcadas ainda existentes embora parcialmente fechadas. Provavelmente deveriam existir sob a área coberta, tanques para a lavagem de roupa ou mesmo banho, os quais não deixou vestígio.

Os boxes de chuveiro são, no nosso entender, uma adaptação da época da instituição do Colégio dos Órfãos na 1ª metade do século passado, se não posterior. São eles construções frágeis cujo conflito com a construção primitiva se evidência no fechamento parcial dos arcos e na má solução dos ângulos e articulações com a cisterna.

Seu funcionamento se fazia pelo recolhimento de água do reservatório em uma grande calha que servia de teto aos boxes e os alimentava. Dada a posição do reservatório elevado, a calha teve de ser seccionada pelo muro que divide ao meio a construção. Esta dificuldade foi superada pela abertura de um orifício de comunicação no referido muro.

Dados do IPAC confirmam que em 1975 o Banheiro dos Jesuítas foi restaurado pela Prefeitura Municipal de Salvador.

É mencionada inclusive pelo jornal Tribuna da Bahia:


Segundo uma das técnicas do Programa de Preservação e Aproveitamento do Patrimônio Monumental de Salvador, arquiteta Odete Dourado Silva, existe por parte da Coordenação de Fomento ao Turismo – órgão ligado à Secretaria da Indústria e Comércio do Estado – “uma grande preocupação” com as fontes de Salvador mas, até o momento, a única restaurada foi o “Banheiro dos Jesuítas” uma fonte privada situada no fundo da Casa Pia e Colégio de São Joaquim. Tribuna da Bahia (22/06/76, p. 05).


Esta reforma também é citada pelo Jornal A Tarde:
                                         
(...) são os monumentos que sofreram restaurações mais recentes. Aproveitando as ruínas do antigo Banheiro dos Jesuítas, o monumento foi totalmente restaurado pelo Patrimônio, que gastou com as obras Cr.$70 mil cruzeiros, voltando hoje a apresentar o mesmo aspecto de quando fora usado pelos jesuítas e alunos do Colégio, guardando inclusive marcas de seu uso pelos religiosos nas pedras gastas pelo tempo. (...) Uma roldana do século passado, localizada na cavidade de onde saem as águas mostra os métodos usados pelos jesuítas para utilizar a fonte. SANTOS, Ednaldo Pereira (Jornal A Tarde, 28/05/78).

Como vimos a reforma foi feita, o monumento foi restaurado totalmente, porém não foi conservado. É preciso que as pessoas tomem conhecimento do valor inestimável que as mesmas têm. Mais uma vez ficamos estupefatas com o descaso para com o referido logradouro. No dia em que visitamos a fonte para fotografar nos deparamos com uma cena grotesca, encontramos apenas resquícios do que um dia foi uma fonte, o matagal ao redor era imenso, inclusive no local um animal era alimentado por seu dono. O mesmo estava dentro da fonte, no local dos boxes e para que o animal não escapasse, um portão foi improvisado. A cisterna estava totalmente lotada de lixo. Um absurdo!




Confiram mais fotos desta fonte!






Fonte: texto extraído da Monografia - Fontes de Salvador: Apogeu e Decadência,
Maria Luiza Rudner, 2006

* Especialista em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, Turismóloga, membro da Oficina de Planejamento Turístico e também atua em projetos que tem como foco aspectos sociais e ambientais.
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