Fonte dos Padres ou do Taboão

Por Maria Luiza Rudner*
A Fonte dos Padres ou do Taboão está situada à rua Conde D’Eu, em um arco, sob a ladeira do Taboão conforme lista das fontes e chafarizes de Salvador fornecida pela prefeitura Municipal de Salvador, Fundação Gregório de Matos. Segundo o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia, vol. I p. 181, a cita fonte está localizada à rua do Julião, ladeira do Taboão.O jornal “A Tarde”, cita, entretanto a rua Conselheiro Lafayete, sob a ladeira do Taboão, como local onde está situada a Fonte dos Padres. Logo de início depara-se, portanto com informações desencontradas no que diz respeito à localidade onde se encontra a referida fonte. Ainda segundo a reportagem a Fonte dos Padres já era citada em documentos de 1587, passou por reforma em 1628, 1870 e 1941. Foi tombada pelo Estado em 1981 e hoje encontra destruída.

O descaso com esses monumentos é tanto que pelo menos um deles deixou de ser Fonte verdadeira. É a Fonte dos Padres, do século XVI - ou Fonte do Taboão, como ficou conhecida por localizar-se sob a ladeira homônima. Embora seja tombada pelo Estado desde 1981, uma obra pública na região, nos anos 90, desviou as correntes subterrâneas que alimentavam. A fonte secou. (BOCHICCHIO, 2003, p. 6)

A referida fonte é citada como:
Todos nos a conhecemos, ali, na subida do Taboão olhando tristemente do fundo da sua gruta, em direção ao mar longínquo, que brincava com ele nos tempos idos e do qual homens a separaram com entulho.
A Fonte dos Padres garantia o suprimento de água, primeiro ao Colégio, depois ao crescente número dos moradores na vizinhança da Porta do Norte, ou Portas do Carmo, assim como às embarcações, cujos ancoradouros se foram estendendo em direção à Jiquitaia. (Edelweiss, 1940, p.23).

Foi construída em terrenos doados aos padres jesuítas, de onde proveio seu nome. Os jesuítas construíram a Fonte dos Padres para abastecer o Colégio da Ordem, embarcações e a região das Portas do Carmo, nas terras doadas por Tomé de Souza à Companhia de Jesus. Na concepção original, capturava água de cinco mananciais diferentes. Os famosos “Túneis da mitologia soteropolitanos, usados para fugas nas histórias passadas de avós para netos, nada mais são do que as galerias do sistema de água e esgotos do período colonial”.

A Fonte dos Padres data do período entre os séculos XVI e XVII, é uma das mais antigas juntamente com a do Pereira e a das Pedreiras. Sua função primeiramente era abastecer ao Colégio dos Jesuítas, porém, por conta da sua distância, já em 1590 os jesuítas tinham cavado um poço de aproximadamente 20 metros de profundidade, a fim de abastecer as oficinas, de acordo com o Inventário de Proteção ao Acervo Cultural da Bahia. Esta fonte serviu também a população do Carmo, além de atender às embarcações que ancoravam na Jiquitaia. Serviu aos primeiros moradores do Comércio, no tempo em que a água era transportada em “lombos de burros”.

A fonte dos Padres é uma fonte de captação de água que jorra espontaneamente como as águas que ainda jorram na ladeira da Montanha. Para que fosse recolhido maior volume de água, em muitas fontes deste tipo (e no caso a dos Padres) construíam-se galerias que coletavam água de muitas fissuras da rocha.

Dados do Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia citam que em 1612, a referida fonte:
É assinalada na planta de Salvador que ilustra o” Livro da Rezão do Estado do Brasil”. 1628 foi remodelada, com a colocação de duas bicas novas de mármore, trabalho que foi arrematado pelo pedreiro Pantaleão Brás; 1801- Vilhena faz o seguinte comentário: “No fundo da ladeira da Misericórdia uma outra muito pobre e ruim chamada Fonte dos Padres, tem duas bicas” Vilhena, neste ponto, equivocou-se e trocou a posição da Fonte dos Padres com a do Pereira, já desaparecida; 1829- ‘É citada na relação de 20 fontes da cidade, que aparece na corografia do Império do Brasil, de Domingos Antônio Rebelo. (IPAC, 1997, p.182).
A referida fonte, é citada no Jornal da Bahia como uma das fontes sobre as quais contam-se lendas passadas de geração em geração. Segundo uma lenda: ”Os padres Carmelitas acorriam lá pelas 18 horas, quando o sol se punha, para tomar banhos despidos”. (Caderno 01, p.02. 04/11/1970).

Brás do Amaral em Recordações Históricas menciona a Fonte dos Padres:
Do lado esquerdo corre ao longo da galeria um fio de água clara que murmurosamente vem deslizando, a qual passando por baixo da rua vai desaguar na cidade baixa, ao sopé da ladeira, formando a fonte abundante que ali existe e que é a celebrada Fonte dos Padres.
Para dirigir esta água foi que fizeram a obra de alvenaria que se encontra dentro da galeria, ao longo dela, e que é um extenso aqueduto.(AMARAL, 1921, p.123).

Quem passar atualmente pela fonte dos Padres terá uma decepção jamais experimentada. O estado é de total abandono. Nada restou. Apenas uma placa com a data 1870. Onde outrora a água jorrava, o que se vê hoje é apenas lixo, degradação, destruição. Para onde terá ido a água que jorrava neste logradouro? E as duas bicas “tão bonita e cara”, onde estarão? Certamente esquecidas em um canto qualquer, ou quem sabe, enfeitando algum jardim “particular”...

Sobre a fonte existe uma placa com a data de 1870, provavelmente seja a data de uma grande reforma, porém nada comprovado com documentos ou citação em livros, daí o “provavelmente”. O antigo chafariz foi substituído por um cano de plástico. Este é o “tratamento” dado a monumentos que tanto contribuíram na formação da cidade, é o “respeito” a um patrimônio histórico de tamanha relevância como foi a Fonte dos Padres e tantos outros.


A princípio a fonte tinha forma de nicho recoberto por abóbada de berços, tendo ao fundo um chafariz com a forma de carranca, cujas águas jorravam em uma bacia que ficava ligeiramente acima do nível da rua. Reformada em 1628, recebeu duas bicas de mármore assentadas pelo artesão Pantaleão Brás. Esta reforma conforme matéria do Jornal da Bahia: “Custou 13 mil réis e por ser tão bonita e cara, o Senado da Câmara proibiu que as lavadeiras se utilizassem dela, proibição que até hoje perdura”.(Jornal da Bahia, 1970, p. 02).

O IPAC descreve a cita fonte:
Elemento de notável mérito histórico urbanístico. Até cerca de duas décadas tinha forma de um nicho recoberto por abóbada de berço, no fundo do qual existia um chafariz em forma de carranca, cujas águas jorravam sobre uma bacia situada ligeiramente acima do nível da rua. A carranca já não existe e o nicho foi revestido inteiramente de grandes pedras irregulares, imitando uma gruta. No final do século XIX. Braz do Amaral e Inocêncio Góes exploraram, em toda extensão, suas galerias. Estas tem perto de 40 metros de extensão para dentro da montanha. Do meio para o fim esgalha-se em cinco braços, cada qual captando diferentes mananciais.(IPAC, 1997, p. 181).
Durante muito tempo proveu a cidade e seus habitantes com suas águas. Em sua trajetória foi citada por Gabriel Soares de Souza em 1587, assinalada na planta de Salvador que ilustra o “Livro da Rezão do Estado do Brasil” em 1612. Remodelada no ano de 1628, citada na relação das 20 fontes da cidade que aparece na corografia do Império do Brasil, de Domingos José Antonio Rebelo. Tombada pelo estado em 1981. (IPAC, 1997, p. 182).

Até o ano de 1974, conforme o Diário de Notícias, a mesma ainda era utilizada: “(...) ainda hoje, serve como local de abastecimento para os moradores daquela área mais humilde da cidade”. (Diário de Notícias, p. 07, 04/06/1974).

Hoje o que vemos é o abandono total e a falta de políticas públicas voltadas para monumentos tão importantes e significativos como é o caso da referida fonte.

Fonte: texto extraído da Monografia - Fontes de Salvador: Apogeu e Decadência, Maria Luiza Rudner

Foto: Maria Luiza Rudner

* Especialista em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, Turismóloga, membro da Oficina de Planejamento Turístico e também atua em projetos que tem como foco aspectos sociais e ambientais.
Contato: (71) 9233-7876 - (71) 8831 5605 e no e-mail (lurudner@gmail.com).